Dez anos depois de lançar Disciplina: Limite na medida certa, o psiquiatra
revisa a obra e traz novos paradigmas para a educação. Informatizadas,
fuçadoras, destemidas e cheias de opinião, as crianças de hoje em nada lembram
os pequenos de dez anos atrás. E nem adianta tentar lidar com elas com
argumentos que eram eficientes há uma década. Os tempos são outros. Os dilemas
da educação também. Diante dessa constatação, Içami Tiba, psiquiatra há 38
anos, com quase 75 mil atendimentos e mais de 2.500 palestras ministradas sobre
relações entre pais e filhos, resolveu reescrever sua obra.
A renovação começa exatamente com Disciplina -
Limite na medida certa: Novos Paradigmas, lançado há dez anos (e hoje na 73ª
edição), em que apresenta propostas educacionais inéditas para auxiliar pais e
professores a lidar com a criação e ensino de crianças e jovens. "As
pessoas geneticamente nada mudaram, mas os padrões comportamentais familiares
sofreram uma grande desorganização. Quanto à disciplina, as crianças e os
adolescentes pioraram bastante, não só no quesito obediência às regras
familiares e escolares, mas também na sua qualidade de vida emocional", segundo
a análise do psiquiatra.
Os pais, por sua vez, têm encontrado cada vez mais
dificuldade na criação dos filhos, já que não sabem o limite entre a liberdade
e o autoritarismo. "A primeira geração educou seus filhos de maneira
patriarcal; a segunda foi massacrada por pais autoritários. Na tentativa de
proporcionar aos filhos o que nunca tiveram, os pais da segunda geração
acabaram caindo no extremo oposto: a permissividade" declara Içami Tiba.
Para ele, é crescente o número de pais que não gostam de contrariar seus
filhos, por isso deixam de estabelecer limites bem cedo e de maneira clara.
"Os filhos hoje são pesquisadores e não querem fazer "carreira"
de filhos.
“Eles não querem aprender, preferem fuçar sozinhos
e se forem autorizados a agir assim nos ambientes familiares terão
comportamentos semelhantes quando estiverem fora de casa”, Uma das novas lições
da obra diz respeito exatamente a essa questão. Para Içami Tiba, o filho não
pode fazer em casa o que não vai poder fazer fora de lá. "Ele não pode
gritar com o pai, que é a autoridade, da mesma forma que não vai fazer isso nem
com o chefe, nem com o policial, nem com o professor ou com seus colegas. E o
pai precisa entender que não é por ser física ou economicamente mais forte, que
é superior. Ele é mais desenvolvido nessa área, mas não há um melhor que o
outro." Içami Tiba dá a essa prática o nome de cidadania familiar.
Outro ponto primordial é a questão da punição.
"Trata-se de uma ferramenta jurássica. Com grito, tapão na orelha, o filho
obedecia, mas não se resolvia a formação do cidadão. Os pais só conseguiam
ensinar que, se um dia aquela pessoa perdesse a paciência, poderia ir pra cima
do outro", critica. Filhos tratados como cidadãos têm direitos e
obrigações, e precisam assumir as consequências de seus atos. "Disciplina
não é obediência cega às regras, como um adestramento, mas um aprendizado
ético, para se saber o que deve ser feito, independentemente da presença do
outro".
Pais em dúvida, mães em pânico, filhos sem rumo,
crianças estressadas, bebês histéricos. A convivência familiar nunca gerou
tanto assunto como agora, até porque, antigamente, os papéis eram claros: os
pais mandavam, e a casa inteira obedecia.
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